Será que o bom gosto vai salvar a criatividade?
Educando nosso olhar para além dos prompts
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Se antes a criatividade nascia da folha em branco, hoje ela começa no oposto: no excesso.
Ideias, imagens, textos, vídeos, músicas, conceitos, tudo já existe, tudo já foi feito. E com a inteligência artificial na jogada, tudo pode ser gerado em segundos.
Mas se todo mundo tem acesso às mesmas ferramentas, o que passa a diferenciar uma criação da outra? Nessa edição da Toró queremos entender: será que, talvez, o novo talento criativo não seja inventar mais, mas sim saber escolher melhor?
A IA não elimina a criatividade humana, mas ela muda o que significa ser criativo. Quase como se a folha em branco virasse mar aberto e para navegar nele, a gente precisasse de bússola.
Bom gosto não se programa
Num mundo onde a IA já consegue gerar de (quase) tudo, do design de um logo ao roteiro de um filme, o que passa a ter mais valor é justamente o que ela ainda não entrega: o olhar. A intuição. A capacidade de enxergar padrões e conexões que só você percebe, porque vêm da sua vivência, das suas referências, da sua bagagem. Sabe aquele faro pra uma pauta boa ou aquela sensação de que “isso aqui vai dar bom”? Talvez seja justamente isso que nos mantém relevantes em um universo tomado por conteúdos automatizados.
Criatividade, no fim, não é só resolver problemas, mas é também provocar emoção, criar o inesperado e gerar conexão. E isso exige algo que não se aprende com prompt: sensibilidade, empatia e coragem pra confiar no próprio feeling.
Taste as skill: o olhar guiado como ferramenta criativa
É nesse contexto que o bom gosto ganha outro status: vira ferramenta de direção. Segundo a The Atlantic, estamos entrando na era do chamado “taste as skill”: uma fase em que saber curar, refinar e decidir se tornou um diferencial criativo essencial para profissionais de comunicação e outras áreas.
Mas dá para treinar nosso gosto? Ou, ainda, como saber o que de fato faz sentido pra gente? Na coluna de Elizabeth Goodspeed para o It’s Nice That, ela nos alerta que o que aqui chamamos de gosto, na verdade é resultado de repertório, treino visual e consciência crítica. Quase como estilo ou estética, saber o que nos agrada exige tempo e uma boa dose de escuta interna. Elizabeth propõe, inclusive, uma espécie de “educação do olhar” que envolve observar com atenção, comparar versões, estudar referências e testar o que “incomoda”.
É aí que o fator humano segue sendo insubstituível porque, no meio de tantos caminhos possíveis, ainda é preciso saber qual vale a pena seguir e por quê.
O fato é que esse combo de repertório, sensibilidade e visão crítica ainda não vimos nenhuma IA entregar.
Leitura profunda, interpretação e repertório: a nova rotina de treino
Se criar com relevância não depende mais só de talento, mas também de treino, é preciso o exercício diário de ler com atenção, interpretar com profundidade e sustentar ideias com contexto.
Para se aprofundar:
A New Yorker faz um alerta urgente: estamos perdendo as habilidades da leitura profunda e concentração. Em um mundo de notificações, estímulos infinitos e respostas prontas, o que antes era natural agora virou esforço, e o mais preocupante: talvez a gente nem perceba.
A Fast Company aponta um paradoxo: a liderança está cada vez mais sobrecarregada de acesso à informação, mas menos equipada para refletir sobre ela. A cultura do “sempre ativo” e a pressão por presença digital sacrificam o pensamento crítico, deixando decisões superficiais. E a IA? Em vez de elevar nossa inteligência, vira muleta.
Já a TIME mostra como isso já afeta a educação: com ferramentas como ChatGPT e Google à disposição, o desafio não é mais acessar informação, mas sim pensar criticamente sobre ela. Saber perguntar, cruzar referências, aplicar contexto.
E agora, o que só o humano pode fazer?
Criar no futuro vai ser menos sobre rapidez e mais sobre clareza de visão. Se a IA entrega o rascunho, cabe a nós dar o tom. Se ela oferece volume, cabe a nós filtrar o que importa. Se ela preenche a tela, cabe a nós decidir o que fica em branco.
A inteligência está nos detalhes e a palavra “curadoria” parece mesmo ter virado um superpoder.
Por falar em curadoria, o Instagram da Fundação Itaú é daqueles cases que merecem destaque. Mais do que um perfil institucional, a página funciona como uma ponte entre arte, cultura e educação, tudo com profundidade e leveza.
A proposta é: provocar reflexão a partir do que realmente importa no cotidiano brasileiro. Sempre com base em dados, pesquisas confiáveis e aquele olhar atento, o perfil nos convida a pensar o presente e imaginar futuros possíveis.
O resultado você pode ver um pouquinho aqui:
📱 Newsfeed > TV – Pela primeira vez, redes sociais superam a televisão como principal fonte de notícias nos EUA. TikTok, YouTube e Instagram lideram o consumo da informação.
✈️ Glossário do novo viajar – “Townsizing”, “Noctourism” e “Land Snorkeling”: o vocabulário do turismo muda, refletindo desejos de flexibilidade, inspiração pop e equilíbrio entre trabalho e descanso.
💭 Gravador de Sonhos - Mas pra não dizer que falamos mal de IA, essa experiência onírica, promete que você pode gravar e explorar sonhos imaginários com entregas visuais e sonoras. Honestamente, é um conceito bem legal.
⌨️ Escrever com foco (e estilo) - Em tempos de IA, de repente tudo que a gente precisa (ou almeja) é uma máquina de escrever digital vermelha e sem distrações, feita como uma carta de amor à escrita. Teclas mecânicas, tela de tinta eletrônica, sincronização com a nuvem, naquele estilo retrô-moderno que entrega bom gosto.